quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Desenganos (III)

Ela estava decepcionada consigo mesma por ter deixado esse sentimento malicioso tomar conta dela e decepcionada mais ainda por não ter forças para extinguir esse sofrimento de dentro de seu frágil coração, que no momento se encontrava em pedaços tão pequenininhos que era praticamente impossível reconstitui-los novamente. E o que fazer quando ela o reencontrasse? Não podia simplesmente fugir dele como um ladrão foge da policia ou como um gato foge de um cão, tinha que encará-lo, tinha que acabar com esse medo que a dominava, tinha que enfrentá-lo mais dia ou menos dia. Ah, como ela tinha vontade de falar pra ele tudo o que ela sofreu nesse tempo, de mostrar a ele que o sofrimento que ele causou a fez crescer, que ele não significava mais nada pra ela. Mas não conseguia, pois só de olhar para seus olhos castanhos e fundos, que há tempos atrás passavam a ela confiança e conforto e que agora só conseguiam passar insegurança, ela se sentia abatida, era como se aqueles olhos a devorassem por inteiro, era como se ela estivesse perdida dentro de um túnel sem saída procurando em vão uma luz. Mas ela sabia que essa dor maléfica um dia acabaria, só não sabia se esse dia estava próximo ou longínquo. E até que esse dia chegasse, ela continuaria com medo de sua própria sombra, querendo ficar sozinha juntamente com suas musicas melancólicas, que aliás ultimamente não saíam mais dos seus ouvidos, refletindo incansavelmente sobre a forma e a intensidade em que as coisas aconteceram e sempre no fim deixando cair mais uma vez algumas lágrimas de seus olhos azuis tão cansados e perdidos, que já faziam tempos que se encontravam embaçados por aquelas lagrimas de sofrimento, mas que não deixavam de sonhar com um final feliz.

domingo, 6 de setembro de 2009

Desenganos (II)

Até que ponto ela estava disposta a escorar todo esse sofrimento causado por ele? Era impossível esquecê-lo assim de uma forma instantanea, já que ele se fez tão presente nos últimos meses na vida dela. Por mais que ela tentasse, alguma coisa dentro dela impedia de deixá-lo ir embora definitivamente. Ela via o seu semblante estampado nas faces de outras pessoas, pensava nele toda vez que o telefone tocava, sentia uma angustia enorme só de ver ali, bem na sua frente o nome dele na lista dos visitantes recentes do orkut dela, pensando no porque aquele nome se encontava lá e como se isso não bastasse, tinha calafrios ao ouvir alguém pronunciar o nome dele. O pior é que ele em nenhum momento esteve preocupado com ela e com os seus sentimentos, muito pelo contrario. Ele só vivia a sua própria realidade, o seu próprio mundinho cheio de mimos e agrados, só pensava nele, na prosperidade dele e em mais ninguém. Um dia desses quando ela resolveu alertá-lo disso, achou ruim e num piscar de olhos saiu e a deixou falando sozinha, como estava acostumado a fazer sempre que não queria ouvir as verdades vindas da boca dela. Era o jeito dele, aquele jeito pertinaz, arrogante e que acreditava sempre que somente ele era o dono da razão. E agora ela estava presa dentro de sua própria dor e sem ninguém para ajudá-la, já que as palavras de apoio e de conforto das amigas não faziam mais efeito na sua mente.

sábado, 29 de agosto de 2009

Doce veneno

“A Julieta era uma idiota. Porque ela se apaixona por aquele cara que ela sabe que não pode ter… Todo mundo acha isso tão romântico: Romeu e Julieta, amor verdadeiro… que triste. Se Julieta foi burra o bastante para se apaixonar pelo inimigo, beber uma garrafa de veneno e ir repousar num mausoléu, então ela teve o que merecia.” {Meredith Grey}

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Desenganos (I)

Ela não acreditava mais no amor até que de repente esse sentimento a invadiu sem dar nenhuma chance a ela de lutar contra ele, para que o mesmo não se apossasse da sua mente. E quando isso aconteceu, ela sabia que as consequências não iam ser as melhores, mas até o momento não conhecia realmente a definição da palavra sofrer, já que nunca tinha sentido de uma maneira tão drástica como essa pequena palavra tinha o poder de acabar com qualquer pessoa. Ela via sempre o sofrimento das amigas, como elas choravam e se lamentavam por conta disso, mas nunca tinha sentido na própria pele daquele jeito tão intenso como sentiu há algumas semanas.
No começo ela acreditava na perfeição, que tudo era perfeito, que as coisas eram perfeitas e principalmente que ele era perfeito. Porém não sabia que a perfeição tinha prazo de validade. Depois de ter formado uma imagem surreal, de ter depositado a sua confiança, ter concedido liberdade, ter acreditado nas mentiras dele e de ter descoberto que a perfeição só existiu pra ela é que ela pode enxergar a realidade que sempre esteve ao seu alcance e que teimava maquia-la para fingir não avistar. Em seguida ela pode ver em como sua vida tinha se transformado num completo inferno depois daquele dia em que ele resolveu voltar a falar com ela após uma briga que fez os dois se afastarem durante alguns meses. Meses estes que para ela foram maravilhosamente bem aproveitados, sem tristeza e solidão, apenas desfrutando o que a vida tinha de melhor para oferecer, só com alegrias, risadas e felicidades junto com as amigas que ela amava.
Quando ela ouviu aquelas palavras de aversão contadas por uma amiga entrando pelos seus ouvidos sentiu uma faca apunhalá-la pelas costas. Ela não podia acreditar que ele a enganou, ela não conseguia acreditar, ou será que não queria? Será que desejava mais uma vez poder fechar os olhos e fingir que nada aconteceu? Não, desta vez foi grave demais. Ela se sentiu como um lixo, como um brinquedo, como um objeto barato que depois de usado foi jogado fora. Não sabia mais o que pensar, em quem acreditar. Ela se sentiu inteiramente perdida dentro de seus próprios devaneios, sentiu seu mundo num instante desmoronar. Justo aquele mundo que demorou tempos e tempos para edificar, aquele que ela lutou com unhas e dentes para erguer e batendo de frente com as pessoas que não queriam vê-lo finalizado. E o pior de tudo é que isso não saía da cabeça dela, que esses pensamentos fúnebres a inundavam e a envolviam nos momentos mais inconvenientes, e as palavras da amiga, aquelas palavras, martelavam na sua mente diariamente fazendo-a chorar por mais um dia. (continua...)

{escrito em Julho, 2008}